Com voto de Fux, STF forma maioria para tornar Bolsonaro réu por tentativa de golpe
Na primeira sessão, realizada na terça, os ministros rejeitaram sete pedidos apresentados pelas defesas dos acusados
Brasília|Gabriela Coelho, Rafaela Soares e Victoria Lacerda, do R7, em Brasília

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta terça-feira (25) para tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete denunciados por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Luiz Fux foi o terceiro ministro a votar para aceitar a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Durante o seu voto, Fux lembrou que a democracia brasileira foi conquistada “por meio de lutas e barricadas” e destacou como foi difícil alcançar o estágio civilizatório. “Tudo que se volta contra ela é repugnante e absolutamente inaceitável”, disse.
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Em seu voto, o ministro Luiz Fux afirmou que tudo o que ameaça o Estado Democrático de Direito é “absolutamente repugnante e inaceitável”. Ele lembrou que, durante a pandemia, presidiu o Supremo Tribunal Federal quando cerca de 800 mil pessoas estavam na Praça dos Três Poderes, ouvindo discursos inflamados.
Segundo Fux, “não aconteceu nada graças a toda uma estratégia e à experiência da Polícia do STF”. Ele destacou ainda que é “absolutamente impossível” afirmar que nada aconteceu em situações como essa.
Até o momento já votaram Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino e Luiz Fux. Ainda faltam votar Cristiano Zanin e Cármen Lúcia.
Na primeira sessão, realizada na terça-feira (25), os ministros rejeitaram sete pedidos apresentados pelas defesas dos acusados. Conforme esclarecido pelo STF, nesta etapa do processo, a Corte avalia apenas se a denúncia preenche os requisitos legais, demonstrando fatos tipificados como crimes e a existência de indícios de autoria.
Ou seja, o julgamento não resultará em condenação neste momento, mas apenas na decisão sobre a abertura de uma ação penal. Caso a denúncia seja aceita, os acusados arão a ser réus.
Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República), mas o STF dividiu o julgamento em três núcleos. Bolsonaro e os sete fazem parte do núcleo 1, o primeiro a ser julgado.
Voto de Moraes
Durante seu voto, Moraes afirmou que os atos de 8 de Janeiro não foram um simples eio e exibiu vídeos das ações antidemocráticas ocorridas na data.
“Não houve eio no parque [no 8 de Janeiro]. Ninguém que lá estava, estava eando. Tudo estava bloqueado e houve necessidade de romper as barreiras policiais”, declarou o ministro.
Moraes disse ainda que a denúncia mostrou todo o período de atuação e que existia uma “organização criminosa que era estável, com uma ação coordenada como estratégia do grupo”.
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Voto de Dino
Durante seu voto, Dino explicou que há um debate sobre a presença de violência e grave ameaça no caso, mas essa tese é afastada pelo vídeo apresentado pelo relator. “É importante lembrar que estamos tratando de fatos que vêm desde 2021 e culminam no 8 de Janeiro. Nesse período, houve, sim, apreensão de armas em vários momentos, inclusive no próprio 8/1”, afirmou.
O ministro também citou um relatório sobre a invasão do Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021, em Washington (EUA), que mencionava a apreensão de instrumentos de trabalho utilizados como armas, como tacos de hóquei, além de objetos improvisados, como móveis de escritório destruídos, barras de ferro, tacos de beisebol e bicicletários.
“É esse o conceito de arma de que estamos tratando aqui, o mesmo que esteve presente na invasão do Capitólio e que, infelizmente, se repetiu em vários momentos, como lembrou o senhor relator”, afirmou.
Bolsonaro no Senado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) optou por assistir à transmissão do julgamento que pode torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado no gabinete do filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL), no Senado Federal. Bolsonaro decidiu não comparecer ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta-feira (26), dia em que os ministros da Primeira Turma decidirão se aceitam a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Até a noite de terça-feira (25), quando ocorreram as duas primeiras sessões do julgamento, a expectativa era de que Bolsonaro comparecesse ao STF durante a votação.
Entenda como é o julgamento
Na sessão da manhã de terça houve as sustentações orais das defesas e da Procuradoria-Geral da República. As outras duas sessões serão dedicadas aos votos dos ministros. Ainda não há previsão de pedido de vista que possa suspender e adiar o julgamento.
O relator é o primeiro a votar, e o julgamento segue com os votos dos ministros mais novos para os mais velhos. O presidente da Turma é o último a se manifestar. No caso de Bolsonaro, a sequência será: Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
O colegiado vai analisar as denúncias contra as pessoas que fazem parte do “núcleo 1″ de acusados pela PGR. Estão nessa lista:
- Jair Bolsonaro;
- Walter Braga Netto (general de Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022);
- General Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional);
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência - Abin);
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal);
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
- Paulo Sérgio Nogueira (general e ex-ministro da Defesa);
- Mauro Cid (delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro).
Eles foram denunciados por abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa. Caso a denúncia seja aceita pelo STF, os denunciados se tornam réus e am a responder penalmente pelas ações na corte.
Então, os processos seguem para a fase de instrução, composta por diversos procedimentos para investigar tudo o que aconteceu e a participação de cada um dos envolvidos no caso. Depoimentos, dados e interrogatórios serão coletados neste momento.